
Estratégia Missionária: Uma África com Face Ocidental.
Ouve-se com glamour a cerca das cruzadas evangelisticas na África. Este trabalho pegou a minha infância, adolescência e uma fatia pequena da minha juventude. No entanto deixou algumas seqüelas e é sobre ela que gostaria de falar.
Os encontros eram marcados com certa antecedência, os lugares eram estádios de futebol, ginásios esportivos e terrenos baldios bem aplainados.
Os missionários preparavam um script que a igreja seguia, em alguns lugares eles enviavam a sua equipe para o trabalho pessoal o pré-evangelismo.
Angola vivia um período de guerras à crise espiritual era evidente, o regime então era socialista marxista-leninista, onde o ateísmo sobrepujava.
Acredita-se que havia mais pessoas querendo o evangelho do que missionários para discipula-los. Os testemunhos deste trabalho são amplo, pessoas andam 20, 30 kilometros a pé até onde estava os missionários. Outros chegavam de ônibus lotados, comumente chamados de pau de arara, aqueles que transportam as pessoas do nordeste brasileiro que vão para o estado de São Paulo. Poucos levavam alimentos, outros iam de estômagos vazios, a sede de Deus era tanta que isto não era motivo para refrear a sua fé, a igreja de Cristo crescia muito e rapidamente.
Certo pregador numa cruzada no ginásio do Enama em Viana cidade satélite de Luanda capital de Angola declarou do final de seu sermão “Nós não vamos te obrigar a entregar a sua vida a Jesus, pois nós mesmos não temos lugar para colocar os nossos membros!” que insensibilidade.
Outro missionário respeitado no Brasil expõe em seu livro que uma senhora tetraplégica que saiu da sua tribo se arrastando em um trajeto de alguns kilometros para a aldeia onde o missionário estava fazendo seu trabalho. Sensibilizamo-nos com a maravilha que o Espírito de Deus faz em tocar nos coração dessas pessoas. Mas as Sagradas Escrituras nos declara que se os homens não fizerem as pedras clamarão.
Reconheço e admiro o trabalho desses missionário que vão até as tribos a exemplo do caso citado. Outros creio que não sabiam das nossas dificuldades pessoais até porque eles não conviviam conosco, para eles eram alugados hotéis de luxo, carros confortáveis e chegavam como santos da última hora. Este ano foi em Angola para um show gospel uma cantora de renome aqui no Brasil, escolheu um hotel de luxo, cantou do cinema Atlântico em Luanda e cobrou em dólares em um país que há dois anos saiu de uma longa guerra com a economia totalmente defasada. Jesus está sendo pregado na África este é o slogan.
A maioria dos nossos seminários treina pastor para enviar aos campos de missões, alguns dos nossos centro de missões expõe mais matérias teológicas do que missiológicas, produzindo assim no indivíduo dificuldades para se adequar a uma cultura, o choque de cultura é inevitável, a aculturação será mais difícil se o missionário não for bem preparado. No Brasil envia-se muitos missionários, mas em contrapartida muitos missionários tem voltado dos campos de missões, alguns deles com grandes problemas psicológicos. Precisa-se de candidatos bem preparados como a igreja de Antioquia, que cedeu para missões o que ela tinha de melhor Paulo e Barnabé, aos meus olhos bem diferente do que ocorre em nosso processo de seleção de missionários.
Voltando para as campanhas veremos que o método usados eram essencialmente ocidental, de campanhas, cruzadas, evangelismo em massa etc. Creio que a própria nomenclatura não era feliz, campanhas nos fazia lembrar das rusgas, quando o governo angolano obrigava os jovens a servir nos campos de batalhas, pegavam jovens nas ruas que chegavam da escola, do trabalho, e colocavam a força em seus carros militares. As mães avisadas pelos vizinhos seguiam chorando porque muitos deles já mais voltavam e outros quando voltavam chegavam mutilados. Cruzadas no mundo muçulmano faz lembrar das guerras entre os cristãos e os islâmicos, batalhas que até hoje deixa muitas cicatrizes de ambos os lados. Evangelismo em massa é o mais suave que tem apesar de lembrar em que os negros eram levados em massa aos navios negreiros, esta visão traz um toque anti-pessoal, um processo de evangelização coletiva. E era assim que nós nos víamos.
Os pastores da igreja angolana se vestiam como os ocidentais, ternos e gravatas, os reverendos das igrejas históricas se vestiam como os reverendos dos filme faroeste americano com aquelas camisas clericais em pleno sol escaldante da África. Reproduziu-se na sofrida África os trejeitos da vida moderna ocidental. O que precisamos na África, no entanto é de uma reeducação prática e doutrinária.
Um fato jocoso é ver os adeptos de hip-hop em Angola, debaixo de um sol ardente colocam aquela touca de lã e casacos, sobretudo americanos, assim como os seus congêneres da América, o sofrimento era claro, mas estar na moda do estrangeiro era um desejo que valia aquele preço.
Os africanos tiveram sua história passada de forma oral corrigido, sentados em círculos nas praças, debaixo de uma árvore, em volta das fogueiras ou aos pés de um ancião. Em um livro de leitura do 1o Nível (1o grau) angolano é contada a história do vovô Kituxi, que todas as noites contava uma história no Jango (uma espécie de grande palhoça). Se os missionários analisassem esta idéia, por exemplo, antes das pessoas na tribos dormirem pedirem licença ao Vovô Kituxi e contar uma história que eles não conheciam a história de um Deus que desceu do céu viveu conosco, morreu a nossa morte para que nós tivéssemos o privilégio de viver sua vida, este Deus ressuscitou subiu ao céu de onde um dia virá nos buscar para vivermos eternamente do céu do seu lado, a possibilidade de alcançarmos os seus corações será muito grande.
Confesso que saia muito confuso daquelas cruzadas principalmente quando os pregadores não falavam português e usavam tradutores não sei se era por minha pouca idade ou porque não comunicava nada em mim, no final muita gente se convertia, mas eu não entendia nada, isso me lembra quando cheguei aqui no Brasil, era convidado a pregar em algumas igrejas evangélica do Rio Grande do Sul, não entendia a expressão facial do povo, me perguntava será que estas pessoas estão me entendendo mesmo?
É comum encontrar na África aquelas catedrais góticas, aqueles templos suntuosos, no meio de casinhas de sapé, palhoças e de pau a pique. Será que não seria mais relevantes construir mais jangos, e usar o dinheiro destas luxuosas construção para edificação de igrejas, escolas e promover o saneamento básico?
Alguns missionários não comem a comida do povo, trazem contêiner de comidas, biscoitos, chocolates e coca-cola como se fossem alimentos básicos. Não tiram ofertas nem deixam que os africanos participam de contribuição no sustento pastoral ou da construção da igreja, nem sugerem que se dê o dízimo com milho, feijão, arroz o fruto do seu trabalho. Aqueles chegam das tribos e dão presentes ganhando os nativos com presentes. No entanto se produziu a atitude do me dá me dá que encontramos em diversas tribos do mundo, a atitude dos nativos é de levar vantagens como criança que é educada com regalias. Depois nós missionários criticamos que o povo só quer receber, nos esquecemos que fomos nós que forjamos esta mentalidade neles.
Muitas vezes nos deparamos com pregações de uma mente estrangeira, só traduzida para o dialeto, não sendo feita uma reflexão prévia para a cultura em questão (modo de pensar e de agir dos nativos). Certa vez assistimos na África um sermão culturalmente brasileiro (até as ilustrações eram importadas) voltamos questionando o que queriam dizer com aquilo! Não entendemos nada.
Por acaso a Bíblia traduzida do português para os dialetos não vêm com a cultura dos europeus, com os seus conceitos e preconceitos! Não deveria se traduzir a Bíblia na maneira de pensar do africano? Que tal ao invés de trocar palavras, traduzir idéias? Essas são algumas considerações para uma literatura essencialmente africana.
Em algumas igrejas angolanas a liturgia é tradicional, alguém que viveu no ocidente no século XVIII não se sentiria deslocado, os hinos são os mesmos no então as melodias também. Hora de levantar, sentar, orar, em suma importada. Nessas igrejas cantam hinos como alvo mais que a neve. Só que um contexto onde nunca se viu neve, nem pela televisão naquela época não tinha. Sugere-se, por exemplo, que cantem alvo como algodão, algo que já viram teria mais feito na mente e adentraria até o coração.
Sonhamos, oramos e procuramos agir por uma África diferente, com uma teologia africana, literatura que reflete a nossa cara, que fala ao nosso coração, que é baseada em nossos princípios que reflete o nosso dia-dia, sim uma África com cara de África e um Jesus Cristo sem ser loiro e longe de ter os olhos azuis. Kuzediwa. Felicidades.
Samuel Escobar comenta com razão “O mundo de amanhã não precisa de latino-americanos que aspirem por viver na comodidade e no luxo dos missionários norte-americanos e europeus, mas de latino-americanos que convençam seus parceiros norte-americanos e europeus que se pode viver com simplicidade e alegria, com os meios estritamente necessários para realizar a obra, e um senso de satisfação que vem da fidelidade ao chamado de Deus”.
Mungueno,
Kwzedywa.
Ouve-se com glamour a cerca das cruzadas evangelisticas na África. Este trabalho pegou a minha infância, adolescência e uma fatia pequena da minha juventude. No entanto deixou algumas seqüelas e é sobre ela que gostaria de falar.
Os encontros eram marcados com certa antecedência, os lugares eram estádios de futebol, ginásios esportivos e terrenos baldios bem aplainados.
Os missionários preparavam um script que a igreja seguia, em alguns lugares eles enviavam a sua equipe para o trabalho pessoal o pré-evangelismo.
Angola vivia um período de guerras à crise espiritual era evidente, o regime então era socialista marxista-leninista, onde o ateísmo sobrepujava.
Acredita-se que havia mais pessoas querendo o evangelho do que missionários para discipula-los. Os testemunhos deste trabalho são amplo, pessoas andam 20, 30 kilometros a pé até onde estava os missionários. Outros chegavam de ônibus lotados, comumente chamados de pau de arara, aqueles que transportam as pessoas do nordeste brasileiro que vão para o estado de São Paulo. Poucos levavam alimentos, outros iam de estômagos vazios, a sede de Deus era tanta que isto não era motivo para refrear a sua fé, a igreja de Cristo crescia muito e rapidamente.
Certo pregador numa cruzada no ginásio do Enama em Viana cidade satélite de Luanda capital de Angola declarou do final de seu sermão “Nós não vamos te obrigar a entregar a sua vida a Jesus, pois nós mesmos não temos lugar para colocar os nossos membros!” que insensibilidade.
Outro missionário respeitado no Brasil expõe em seu livro que uma senhora tetraplégica que saiu da sua tribo se arrastando em um trajeto de alguns kilometros para a aldeia onde o missionário estava fazendo seu trabalho. Sensibilizamo-nos com a maravilha que o Espírito de Deus faz em tocar nos coração dessas pessoas. Mas as Sagradas Escrituras nos declara que se os homens não fizerem as pedras clamarão.
Reconheço e admiro o trabalho desses missionário que vão até as tribos a exemplo do caso citado. Outros creio que não sabiam das nossas dificuldades pessoais até porque eles não conviviam conosco, para eles eram alugados hotéis de luxo, carros confortáveis e chegavam como santos da última hora. Este ano foi em Angola para um show gospel uma cantora de renome aqui no Brasil, escolheu um hotel de luxo, cantou do cinema Atlântico em Luanda e cobrou em dólares em um país que há dois anos saiu de uma longa guerra com a economia totalmente defasada. Jesus está sendo pregado na África este é o slogan.
A maioria dos nossos seminários treina pastor para enviar aos campos de missões, alguns dos nossos centro de missões expõe mais matérias teológicas do que missiológicas, produzindo assim no indivíduo dificuldades para se adequar a uma cultura, o choque de cultura é inevitável, a aculturação será mais difícil se o missionário não for bem preparado. No Brasil envia-se muitos missionários, mas em contrapartida muitos missionários tem voltado dos campos de missões, alguns deles com grandes problemas psicológicos. Precisa-se de candidatos bem preparados como a igreja de Antioquia, que cedeu para missões o que ela tinha de melhor Paulo e Barnabé, aos meus olhos bem diferente do que ocorre em nosso processo de seleção de missionários.
Voltando para as campanhas veremos que o método usados eram essencialmente ocidental, de campanhas, cruzadas, evangelismo em massa etc. Creio que a própria nomenclatura não era feliz, campanhas nos fazia lembrar das rusgas, quando o governo angolano obrigava os jovens a servir nos campos de batalhas, pegavam jovens nas ruas que chegavam da escola, do trabalho, e colocavam a força em seus carros militares. As mães avisadas pelos vizinhos seguiam chorando porque muitos deles já mais voltavam e outros quando voltavam chegavam mutilados. Cruzadas no mundo muçulmano faz lembrar das guerras entre os cristãos e os islâmicos, batalhas que até hoje deixa muitas cicatrizes de ambos os lados. Evangelismo em massa é o mais suave que tem apesar de lembrar em que os negros eram levados em massa aos navios negreiros, esta visão traz um toque anti-pessoal, um processo de evangelização coletiva. E era assim que nós nos víamos.
Os pastores da igreja angolana se vestiam como os ocidentais, ternos e gravatas, os reverendos das igrejas históricas se vestiam como os reverendos dos filme faroeste americano com aquelas camisas clericais em pleno sol escaldante da África. Reproduziu-se na sofrida África os trejeitos da vida moderna ocidental. O que precisamos na África, no entanto é de uma reeducação prática e doutrinária.
Um fato jocoso é ver os adeptos de hip-hop em Angola, debaixo de um sol ardente colocam aquela touca de lã e casacos, sobretudo americanos, assim como os seus congêneres da América, o sofrimento era claro, mas estar na moda do estrangeiro era um desejo que valia aquele preço.
Os africanos tiveram sua história passada de forma oral corrigido, sentados em círculos nas praças, debaixo de uma árvore, em volta das fogueiras ou aos pés de um ancião. Em um livro de leitura do 1o Nível (1o grau) angolano é contada a história do vovô Kituxi, que todas as noites contava uma história no Jango (uma espécie de grande palhoça). Se os missionários analisassem esta idéia, por exemplo, antes das pessoas na tribos dormirem pedirem licença ao Vovô Kituxi e contar uma história que eles não conheciam a história de um Deus que desceu do céu viveu conosco, morreu a nossa morte para que nós tivéssemos o privilégio de viver sua vida, este Deus ressuscitou subiu ao céu de onde um dia virá nos buscar para vivermos eternamente do céu do seu lado, a possibilidade de alcançarmos os seus corações será muito grande.
Confesso que saia muito confuso daquelas cruzadas principalmente quando os pregadores não falavam português e usavam tradutores não sei se era por minha pouca idade ou porque não comunicava nada em mim, no final muita gente se convertia, mas eu não entendia nada, isso me lembra quando cheguei aqui no Brasil, era convidado a pregar em algumas igrejas evangélica do Rio Grande do Sul, não entendia a expressão facial do povo, me perguntava será que estas pessoas estão me entendendo mesmo?
É comum encontrar na África aquelas catedrais góticas, aqueles templos suntuosos, no meio de casinhas de sapé, palhoças e de pau a pique. Será que não seria mais relevantes construir mais jangos, e usar o dinheiro destas luxuosas construção para edificação de igrejas, escolas e promover o saneamento básico?
Alguns missionários não comem a comida do povo, trazem contêiner de comidas, biscoitos, chocolates e coca-cola como se fossem alimentos básicos. Não tiram ofertas nem deixam que os africanos participam de contribuição no sustento pastoral ou da construção da igreja, nem sugerem que se dê o dízimo com milho, feijão, arroz o fruto do seu trabalho. Aqueles chegam das tribos e dão presentes ganhando os nativos com presentes. No entanto se produziu a atitude do me dá me dá que encontramos em diversas tribos do mundo, a atitude dos nativos é de levar vantagens como criança que é educada com regalias. Depois nós missionários criticamos que o povo só quer receber, nos esquecemos que fomos nós que forjamos esta mentalidade neles.
Muitas vezes nos deparamos com pregações de uma mente estrangeira, só traduzida para o dialeto, não sendo feita uma reflexão prévia para a cultura em questão (modo de pensar e de agir dos nativos). Certa vez assistimos na África um sermão culturalmente brasileiro (até as ilustrações eram importadas) voltamos questionando o que queriam dizer com aquilo! Não entendemos nada.
Por acaso a Bíblia traduzida do português para os dialetos não vêm com a cultura dos europeus, com os seus conceitos e preconceitos! Não deveria se traduzir a Bíblia na maneira de pensar do africano? Que tal ao invés de trocar palavras, traduzir idéias? Essas são algumas considerações para uma literatura essencialmente africana.
Em algumas igrejas angolanas a liturgia é tradicional, alguém que viveu no ocidente no século XVIII não se sentiria deslocado, os hinos são os mesmos no então as melodias também. Hora de levantar, sentar, orar, em suma importada. Nessas igrejas cantam hinos como alvo mais que a neve. Só que um contexto onde nunca se viu neve, nem pela televisão naquela época não tinha. Sugere-se, por exemplo, que cantem alvo como algodão, algo que já viram teria mais feito na mente e adentraria até o coração.
Sonhamos, oramos e procuramos agir por uma África diferente, com uma teologia africana, literatura que reflete a nossa cara, que fala ao nosso coração, que é baseada em nossos princípios que reflete o nosso dia-dia, sim uma África com cara de África e um Jesus Cristo sem ser loiro e longe de ter os olhos azuis. Kuzediwa. Felicidades.
Samuel Escobar comenta com razão “O mundo de amanhã não precisa de latino-americanos que aspirem por viver na comodidade e no luxo dos missionários norte-americanos e europeus, mas de latino-americanos que convençam seus parceiros norte-americanos e europeus que se pode viver com simplicidade e alegria, com os meios estritamente necessários para realizar a obra, e um senso de satisfação que vem da fidelidade ao chamado de Deus”.
Mungueno,
Kwzedywa.
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