domingo, 29 de março de 2009


Mitologia cultural como ponte para a exposição bíblica




Meu querido leitor, neste último capítulo vamos falar sobre a felicidade através de mitos africanos. Pergunto: Por que é importante usar a mitologia cultural como canal para exposição de histórias bíblicas? Ora, o apóstolo Paulo empregava de forma eficiente as lendas do povo como ponte para a sua exposição bíblica.
Um grande exemplo encontra-se em Atos, quando, no Areópago, aproveitando a existência de um altar “ao Deus Desconhecido”, ele falou ao povo a respeito do Deus Vivo o Criador. Vejamos:

“Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade”. Por isso, dissertava na sinagoga (...) também na praça, todos os dias (...) E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele (...), pois pregava a Jesus e a ressurreição. Então, tomando-o consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas, queremos saber o que vem a ser isso.
Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades. Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio.
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação (...) bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos (...) Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.”.
Atos 17.16-31

Conta-se que certa epidemia assolava a Grécia, mais especificamente a cidade de Atenas. Então a elite e a comunidade se reuniram no intuito de buscar motivos e procurar um antídoto que curasse a doença.

Chegando à conclusão que o problema era de ordem espiritual, as autoridades resolveram pedir ajuda a Arquimedes, cretense, que lhes propôs que na manhã seguinte soltassem os animais e os levassem aos pastos, para que se alimentassem.
Ora, os cretenses, habitantes da Ilha de Creta, tinham uma fama histórica de serem mentirosos. O apóstolo Paulo, na sua carta a Tito, assim escreveu: “Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos.” (Tito 1.12).

Aconteceu que, naquela manhã, quando os animais foram soltos, diante do pasto, alguns deles simplesmente se deitaram e não se alimentaram. Então, segundo dizem os historiadores, os atenienses erigiram ali altares “ao Deus Desconhecido”, e daquele momento em diante a epidemia teria cessado.

Andando por Atenas, Paulo descobriu um desses altares – ele provavelmente conhecia o contexto histórico – e nele baseou toda a sua dissertação, dizendo que aquele Deus que eles não conheciam era o Deus Verdadeiro, e que Ele veio ao mundo.

Pedro e os demais apóstolos também usaram palavras de Sócrates, filósofo da Antigüidade, quando foram proibidos de pregar o Evangelho em Jerusalém: “Antes importa obedecer a Deus do que a homens”. Vejamos o episódio:

“E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor, a ponto de levarem os enfermos até pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra se projetasse nalguns deles. Afluía também muita gente das cidades vizinhas a Jerusalém, levando doentes e atormentados de espíritos imundos, e todos eram curados.
Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública.
Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida.
Tendo ouvido isto, logo ao romper do dia, entraram no templo e ensinavam. Chegando, porém, o sumo sacerdote e os que com ele estavam, convocaram o Sinédrio e todo o senado dos filhos de Israel e mandaram buscá-los no cárcere.
Mas os guardas, indo, não os acharam no cárcere; e, tendo voltado, relataram, dizendo: Achamos o cárcere fechado com toda a segurança e as sentinelas nos seus postos junto às portas; mas, abrindo-as, a ninguém encontramos dentro.
Quando o capitão do templo e os principais sacerdotes ouviram estas informações, ficaram perplexos a respeito deles e do que viria a ser isto. Nesse ínterim, alguém chegou e lhes comunicou: Eis que os homens que recolhestes no cárcere, estão no templo ensinando o povo.
Nisto, indo o capitão e os guardas, os trouxeram sem violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo. Trouxeram-nos, apresentando-os ao Sinédrio. E o sumo sacerdote interrogou-os, dizendo: Expressamente vos ordenamos que não ensinasses nesse nome; contudo, enchestes Jerusalém de vossa doutrina; e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem.
Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-o num madeiro.”.
Atos 5.14-30

Os povos africanos desenvolveram muito a tradição da transmissão oral da cultura. As histórias eram contadas de geração a geração.

Nas tribos angolanas, o Jango – uma espécie de quiosque com uma fogueira no centro – foi um lugar muito especial e desempenhou um importante papel na vida cultural da comunidade. Era como o “Areópago” dos atenienses.

As pessoas se sentavam em luandros – esteiras – ou mesmo em troncos de árvores, e as histórias eram contadas para os jovens e as crianças antes de dormirem. Assuntos relevantes da tribo também eram tratados ali entre os adultos e os anciãos.

Minha sugestão é que os missionários na África, em vez de construírem “catedrais” no estilo ocidental, aproveitem estas oportunidades, quando as pessoas se reunirem no Jango, que ainda é um local sério e respeitado, para contarem histórias da Bíblia, desde o Gênesis, com a narrativa da Criação, até o plano divino de salvação para a humanidade.

Os recursos financeiros devem, então, ser investidos no auxílio às comunidades locais, com o desenvolvimento de trabalhos sociais.

Em lugar de igrejas devem ser edificados jangos, que fazem parte do contexto sociocultural das tribos, sendo, portanto, mais eficientes para a pregação da Palavra de Deus.

Todas as culturas têm histórias que descrevem sua raiz e origem. Na Zâmbia, por exemplo, existe um povo chamado Toga-leya, que tem uma história especial para falar do relacionamento com Deus.

Diz à lenda que cada pessoa se relacionava diretamente com Deus, até que um dia uma mulher bateu n’Ele. Então, aborrecido, Ele Se foi. Com isso o único meio de comunicação com Ele passou a ser por intermédio dos chamados “mortos viventes”. Estes eram aqueles que gozavam de algum status social, considerados famosos na tribo, cujos nomes nunca seriam esquecidos.

Um outro nível de “seres espirituais” que os integrantes da tribo criaram eram os mortos esquecidos, pessoas consideradas desagradáveis, as quais não seriam lembradas.

Destas criaturas, com as quais podemos fazer uma analogia com entidades cultuadas em seitas afro-brasileiras, derivavam, segundo a tribo, todas as epidemias.

O povo Toga-leya acreditava ainda em um espírito demoníaco, que tomava completamente as pessoas quando estas queriam fazer mal a alguém que lhes tivesse prejudicado. Era um espírito muito temido.

Os missionários aproveitaram essas crenças e apresentaram Deus a este povo de uma forma completa. Explicaram que Deus sempre quis Se relacionar com as pessoas; por isso, enviou o Seu Único Filho, Jesus Cristo, ao mundo. Ele morreu pelos pecados de todos, tornando-se o Restaurador da comunicação com Deus.
Explicaram também que não temiam o espírito demoníaco, pois Deus havia lhes dado o Espírito Santo, que é maior que ele. Assim, muitos daquela tribo se converteram ao Senhor e Ele foi glorificado.
Mungueno,
Kwzedywa.

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